Terminou nesta quinta-feira (27/8), em Belo Horizonte, e prossegue até domingo (30/8) em Ouro Preto o Imagem dos Povos – 5ª Mostra Internacional Audiovisual . O evento nasceu com uma proposta das mais interessantes: mostrar para o Brasil a diversidade dos cinemas feitos em outros países, digamos assim, na “contramão do mundo”.
Cinematografias que não conseguem forte distribuição internacional e, consequentemente, são menos (ou nada) vistas pelos cinéfilos do mundo inteiro. O Imagem dos Povos deste ano optou por enfocar filmes da África e do Caribe (também em co-produções com a França), além do próprio Brasil. E sem dúvida trata-se de uma experiência das mais fascinantes e enriquecedoras.
Ao contrário de muitos Festivais que captam dinheiro público e cobram caro pelo preço do ingresso, o Imagem dos Povos é totalmente gratuito e aberto à população. Seus organizadores levam para Belo Horizonte e Ouro Preto os próprios diretores e produtores dos filmes exibidos, não falsas celebridades que produzem mídia fácil. Ou seja, um evento de cinema para quem gosta de cinema. Porém, a pergunta é inevitável. Existe produção cinematográfica significativa na África e no Caribe? A resposta é surpreendentemente positiva.
Conversando, por exemplo, com o cineasta Gaston Kaboré, de Burkina Faso, ficamos sabendo da existência já há 40 anos de um grandioso festival de cinema africano em seu país. Batizado de FESPACO, o evento tem sua abertura e seu encerramento realizados num estádio de futebol, reunindo algo em torno de 50 mil pessoas em cada uma destas noites festivas. “E isso porque Burkina Faso fez apenas dez longas-metragens nos últimos cinco anos”, informa Kaboré. Imagine se fosse mais. Adyr Assumpção, um dos idealizadores e diretores do Imagem dos Povos , que já teve a oportunidade de presenciar o FESPACO, diz que “a população de lá é maluca por cinema. O simples fato de eu caminhar pelas ruas com uma camiseta ou uma bolsa de algum festival, com algum ícone qualquer que lembre cinema, já é motivo suficiente para as pessoas se aproximarem e puxar um bom papo sobre o assunto”.
Kaboré, que além de organizar o FESPACO também mantém uma escola técnica de cinema em seu país, afirma que Burkina Faso possui algo em torno de 50 salas de exibição, quase todas em processo de transformação, trocando seus equipamentos em 35mm para o sistema digital. A qualidade dos filmes também surpreende. O senegalês Mansour Wade exibiu no Imagem dos Povos o bom drama policial Os Fogos de Mansaré , sobre um contrabandista de armas que após enriquecer trabalhando para o crime organizado retorna ao seu vilarejo natal, onde espera se casar com a noiva prometida desde a infância. Tem início então um violento conflito de interesses onde o choque cultural é o estopim para um desfecho trágico e violento. “O filme mostra problemas comuns a toda a África, e não apenas ao meu país”, diz Wade.
Também causou polêmica a tragicomédia Triomf , filme sul-africano dirigido por Michael Raeburn que expõe as mazelas de uma família extremamente (e põe “extremamente” nisso) disfuncional que mora no subúrbio de Johannesburgo. “A loucura que comanda esta família na realidade é o microcosmo da própria loucura da África do Sul da era do Apartheid”, diz Raeburn. “E o pior é que tudo é baseado em fatos reais, já que a escritora do livro que deu origem ao filme foi vizinha desta família”, afirma o cineasta.
Além da África, o Caribe também esteve representado no Imagem dos Povos. A cineasta Kátia Paradis, por exemplo, esteve em Belo Horizonte representando Guadalupe, uma possessão francesa, uma pequena ilha caribenha próxima à Jamaica, e grande exportadora de jogadores de futebol para a França. Segundo Kátia, do time francês que levantou a Copa do Mundo de 1998 (triste lembrança para o Brasil), sete eram de Guadalupe. Bem humorada, a cineasta conta que, quando a seleção da França ganha um jogo, eles falam que “A França está ótima!”. E, quando perdem, dizem que “Guadalupe perdeu”. A cineasta está mapeando por meio de uma série de documentários as histórias e biografias de várias mulheres Guadalupenses que vivem fora de seu país. Alguns deles foram exibidos no Imagem dos Povos.
É curioso pensar: não um, nem dois, nem três, mas uma série de documentários feitos num país que a gente nem sabia que existia, cinco minutos atrás. De qualquer maneira, entre vários acertos, o Imagem dos Povos faz pensar em como é pobre, triste e limitado ficar a vida toda vendo apenas um tipo de filme. Ir sempre no mesmo multiplex para ver todas as semanas o mesmo tipo de filme, geralmente produzido pelo mesmo país é, no mínimo, emburrecedor quando o mundo lá fora é tão grande e tão diversificado. Celso Sabadin viajou a Belo Horizonte a convite dos organizadores do evento.
fonte: yahoo cinema
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