Uma cerimônia para coroar o conjunto da obra de uma das maiores figuras brasileiras. Na noite de premiação do I Festival Paulínia de Cinema, não houve concorrentes: “Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, faturou sete prêmios, incluindo o de melhor filme (categoria que venceu por unanimidade).
Vestido de capa preta e chapéu, à Zé do Caixão, Mojica subiu ao palco acompanhado pela equipe, fez trocadilho com o produtor Paulo Sacramento e, aos 72 anos, dedicou o troféu Menina de Ouro aos sete filhos e netos. “E que venham mais”. O reconhecimento em Paulínia pode dar um gás maior ao filme, que estréia em 08 de agosto, com cerca de 70 cópias, distribuídas pela Fox.
Na cerimônia liderada por Miguel Falabella e Claudia Raia (que escorregou no roteiro algumas vezes), a pitada de emoção ficou por conta do ator-diretor Selton Mello. “Feliz Natal”, seu primeiro trabalho na direção de longas, deu a ele o prêmio na categoria. Subiu ao palco emocionado, com a mesma empolgação de quando apresentou o filme no festival. E, novamente, rasgou elogios à Darlene Glória, que interpreta a personagem Mércia. “Darlene, minha musa inspiradora!”
À parte da quase hegemonia de Mojica e a presença de “Feliz Natal”, sobrou espaço para uma premiação especial do júri ao cineasta Walter Lima Jr., que apresentou em Paulínia “Os Desafinados”, seu 13° longa. O filme, aliás, foi especial para os atores: Ângelo Paes Leme ficou com o prêmio de melhor ator coadjuvante. Sobre a escolha de melhor atriz, que elegeu Claudia Abreu, também de “Os Desafinados”, pairou uma dúvida: sua personagem poderia ser enquadrada como coadjuvante, mas ganhou o prêmio principal, ao passo que Darlene Glória, que em “Feliz Natal” é a atriz principal, ficou com o troféu de coadjuvante.
“Pequenas Histórias”, de Helvécio Ratton, em cartaz no circuito comercial desde sexta-feira (11/07), também faturou seu quinhão na premiação. Roteiro, para o próprio Ratton, e ator, para Paulo José, que rouba a cena em um filme composto por quatro histórias diferentes. Completam a lista o figurino de “Onde Andará Dulce Veiga?” e “Alucinados”, escolhido pelo júri popular como melhor longa de ficção.
Entre os documentários, “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” foi o grande vencedor, tanto do júri como do público. O filme começou como um projeto do Casseta Cláudio Manoel e ganhou reforço, na direção, de Calvito Leal e Michael Langer. “Iluminados”, que apresenta o trabalho de alguns dos maiores fotógrafos do cinema nacional, e “Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais”, que dialoga com o cinema mineiro da ditadura militar, receberam prêmios especiais.
Após passar pelo É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários e ser premiado no Cine PE, “Dossiê Rê Bordosa” foi bem acolhido em Paulínia. Misturando ficção e documentário, busca os porquês de o cartunista Angeli ter assassinado uma de suas criações mais famosas, a Rê Bordosa. O curta, dirigido por César Cabral, levou o prêmio de melhor filme do júri e da crítica.
Outro já rodado em festivais, “Vida Maria” teve o roteiro premiado e um prêmio especial de júri. Mais um troféu para o diretor Márcio Ramos levar para casa: em cerca de dois anos, o curta acumula mais de 45 prêmios.
“Café Com Leite”, que já havia sido premiado no Festival de Cinema Brasileiro em Miami, levou duas Meninas de Ouro: direção, para Daniel Ribeiro, e ator para o garoto Eduardo Melo, cujo personagem lida de maneira madura com a homossexualidade do irmão mais velho.
Com um júri formado por Leonardo Barros (Conspiração Filmes), Patrick Siaretta (TeleImage), Rodrigo Saturnino (Sony) e Bráulio Mantovani (roteirista de “Tropa de Elite”), o I Festival Paulínia de Cinema concedeu a três roteiros o prêmio de R$ 15 mil reais para desenvolvimento. São eles: “Corpo Presente”, de Marcelo Toledo, Paolo Gregori e Daniel Chaia (este, assistente de direção de Carlos Reichenbach em “Falsa Loura”); “Idéia Fixa”, de Rui Veridiano; “Colegas”, de Marcelo Galvão (“Bellini e a Esfinge”, “Quarta B”).
Em um País que conta com mais de dois mil festivais, Paulínia se destacou especialmente pela seleção dos filmes, trazendo dois inéditos (“Encarnação do Demônio” e “Feliz Natal”, ambos já com estréia marcada. Agora, é fazer o evento colar no público para ganhar sustentação nos próximos anos e não se tornar um diálogo apenas com quem está envolvido na cadeia de produção cinematográfica ou apenas um desfile de celebridades.
Confira a relação completa dos vencedores do I Festival Paulínia de Cinema:
PREMIAÇÃO DO JÚRI OFICIAL
Melhor Filme (R$ 60 mil):
Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins
Prêmio Especial do Júri (R$ 30 mil):
Walter Lima Júnior, diretor de “Os Desafinados”
Melhor Diretor (R$ 30 mil):
Selton Melo, por “Feliz Natal”
Melhor Ator (R$ 25 mil):
Paulo José, por “Pequenas Histórias”
Melhor Atriz (R$ 25 mil):
Claudia Abreu, por “Os Desafinados”
Melhor Ator Coadjuvante (R$ 15 mil):
Ângelo Paes Leme, por “Os Desafinados”
Melhor Atriz Coadjuvante (R$ 15 mil):
Darlene Glória e Graziella Moretto, por “Feliz Natal” (por unanimidade)
Melhor Roteiro (R$ 15 mil):
Helvécio Ratton, por “Pequenas Histórias”
Melhor Fotografia (R$ 15 mil):
José Roberto Eliezer, por “Encarnação do Demônio” (por unanimidade)
Melhor Montagem (R$ 15 mil):
Paulo Sacramento, por “Encarnação do Demônio” (por unanimidade)
Melhor Edição de Som (R$ 15 mil):
Ricardo Reis, por “Encarnação do Demônio”
Melhor Direção de Arte (R$ 15 mil):
Cássio Amarante, por “Encarnação do Demônio”
Melhor Trilha Sonora (R$ 15 mil):
André Abujamra e Marcio Nigro, por “Encarnação do Demônio”
Melhor Figurino (R$ 15 mil):
Fábio Namatame, por “Onde Andará Dulce Veiga?”
Melhor Documentário (R$ 30 mil):
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, de Cláudio Manoel, Calvito Leal e Michael Langer
Prêmios Especiais – Documentários (R$ 20 mil):
Iluminados, de Cristina Leal
Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais, de Carlos Alberto Prates Correia
Menção Especial:
Fabrício Reis por sua atuação em “Feliz Natal”, de Selton Mello
PRÊMIO DA CRÍTICA
Melhor Longa-Metragem: Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins
Melhor Curta-Metragem: Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral
CURTAS NACIONAIS
(Júri Oficial)
Melhor Filme (R$ 20 mil):
Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral.
Premio Especial do Júri:
Vida Maria, de Marcio Ramos.
Melhor Diretor (R$ 15 mil):
Daniel Ribeiro, por “Café com Leite”.
Melhor Ator (R$ 8 mil):
Eduardo Melo, por “Café com Leite”.
Melhor Atriz (R$ 8 mil):
Ana Carolina Lima e Renata Torralba Horta, por “Espalhadas pelo Ar”.
Melhor Roteiro (R$ 8 mil):
Márcio Ramos, por “Vida Maria”.
Melhor Fotografia (R$ 8 mil):
Rômulo Errico, por “OD – Overdose Digital”.
Melhor Montagem (R$ 8 mil):
André de Campos Mello, por “OD -Overdose Digital”.
Menção Honrosa:
Elke, de Julia Rezende.
Curtas Regionais
(Júri Oficial)
Melhor Filme de Curta Metragem Regional (R$ 20 mil):
A Vaca, de Marcelo Reginaldo de Menezes.
Melhor Diretor (R$ 15 mil):
Marcelo Reginaldo de Menezes por “A Vaca”.
Melhor Ator (R$ 8 mil):
Dirceu Carvalho e Jose Ricardo Nogueira, ambos pelo filme “Luchador”.
Melhor Roteiro (R$ 8 mil):
Marcelo Reginaldo de Menezes por “A Vaca”
Melhor Fotografia (R$ 8 mil):
Marcelo Mazzariol por “Luchador”
Melhor Montagem (R$ 8 mil):
Marcelo Mazzariol e Juliano Luccas por “Luchador”
PRÊMIOS DO JÚRI POPULAR
Melhor Filme de Ficção (R$ 30 mil):
Alucinados, de Roberto Santucci.
Melhor Documentário (R$ 20 mil):
Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Dei, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
Melhor Curta Nacional (R$ 15 mil):
Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral e Vida Maria, de Marcio Ramos.
Melhor Curta Regional (R$ 15 mil):
A Vaca, de Marcelo Reginaldo de Menezes.
MELHORES ROTEIROS SELECIONADOS PELO JÚRI ROTEIRO
Júri: Leonardo de Barros, Patrick Siaretta, Rodrigo Saturinino e Bráulio Mantovani.
Prêmio de R$ 15 mil para cada um:
1. Colegas, de Marcelo Galvão.
2. Idéia Fixa, de Rui Veridiano.
3. Corpo Presente, de Marcelo Toledo, Daniel Chaia e Paolo Gregori.
fonte: revista de cinema