O curta fluminense "O Lobinho Nunca Mente", de Ian SBF (foto), foi o grande vencedor do 8º Curta-SE (Festival Ibero-Americano de Curtas-Metragens de Sergipe), realizado em Aracaju (SE). O filme foi considerado o melhor curta ibero-americano pelo júri popular.
Na trama, um jovem que mora sozinho bate a cabeça ao cair de uma cadeira em sua casa e fica paralisado, mexendo apenas os olhos. Durante três dias, ele repensa sua vida, seus pecados e defeitos, de forma bem humorada, apesar da situação.
Muito feliz ao receber, na noite de sábado, o troféu "Ver ou Não Ver", o diretor afirmou que gosta da maneira como sua obra vem sendo recebida pelo público. "Fiz esse filme para ser visto", completou Ian.
O documentário "Cine Zé Sozinho", de Adriano Lima, foi o vencedor na categoria "melhor curta com temática nordestina".O filme conta a história de José Raimundo Cavalcante, o Zé Sozinho, cinéfilo que vive no interior do Ceará. Após ganhar um projetor na década de 1970, passou a rodar pelo interior do Ceará projetando filmes em salas improvisadas.
Além do troféu, o diretor, que não esteve presente na cerimônia de premiação, receberá R$ 5 mil. Lima contou à Folha Online na última quarta-feira (23) que gostaria de ganhar um prêmio em dinheiro "que desse para comprar uma casa para o Zé Sozinho", pois seu maior sonho era ter o próprio lar. Com o dinheiro recebido pelo diretor, talvez o desejo do cinéfilo finalmente se torne realidade.
"Engano", de Cavi Borges, foi o vencedor na categoria "curta de ficção". O filme apresenta o ponto de vista de duas pessoas ao mesmo tempo. Do lado esquerdo da tela, um rapaz no metrô faz uma ligação de seu celular. Na direita, uma mulher atende a esta chamada enquanto caminha pelas ruas. Ambientado no Rio de Janeiro (RJ), o curta mostra em uma só tomada todo o diálogo e o desencontro dessas pessoas.
O melhor documentário ibero-americano foi "Dreznica", de Anna Azevedo. A obra expõe por meio de relatos de cegos todo o drama da falta de visão. Para acompanhar as narrações, todas em off, há uma sucessão de imagens desfocadas e às vezes desconexas que dão a idéia de como funcionam a imaginação e os sonhos dos entrevistados.
"Pajerama", do paulista Leonardo Cadaval, recebeu o prêmio de melhor curta de animação. O filme mostra um indiozinho caçando em uma selva verde que, séculos mais tarde, se tornará a metrópole São Paulo. Durante seus passeios, tem diversas premonições apavorantes de como a tranqüilidade daquela região seria afetada pelo progresso e pela tecnologia.
"Ele", criação de 150 alunos da rede municipal de Vitória (ES). recebeu uma menção honrosa. "Esse prêmio é uma vitória das crianças de Vitória", disse Ariane Piñeiro, diretora da animação. A obra conta a história do compositor carioca Noel Rosa, que, com muito talento, retratou em canções o Rio de Janeiro da primeira metade do século 20.
Pela qualidade dos 25 curtas inscritos, a organização do festival decidiu criar um prêmio especial para laurear o documentário "O Evangelho Segundo Seu João", de Leonardo Gomes. O filme mostra a história de Seu João, um homem de 74 anos que, apesar de não saber ler, é considerado um sábio e não deixa perguntas sem respostas.
Dois atores também foram laureados com troféus "Ver ou Não Ver". Vandré Silveira recebeu o prêmio de melhor ator de curta por seu papel em "Bárbara". "Dedico este prêmio à diferença", disse o ator após ser premiado.
Dirigido por Carlos Grandim, o filme mostra o encontro da travesti que nomeia o filme com seu pai à beira da morte em decorrência de um câncer de pulmão. Rejeitada, Bárbara sofre com o ódio ao diferente apresentado não só por seu pai, mas por toda a sociedade.
A melhor atriz, na opinião do público, foi Yarsin Tedesco, de "A Peste da Janice". A ficção de Rafael Figueiredo mostra toda a crueldade que as crianças podem esconder por trás de uma máscara de inocência.
Vídeos
O grande vencedor na categoria "vídeo sergipano", segundo o júri oficial, foi o documentário "Deu bode", de Fátima Góes. O filme conta a engraçada e curiosa história do bode que tinha o costume de acompanhar procissões, desfiles cívicos e até enterros.
Já para o público, o melhor vídeo de Sergipe foi o documentário"A verdadeira imagem". A diretora, Karla Dias, disse que não esperava receber o prêmio. "Mas é muito bom ter seu trabalho reconhecido."
O filme conta a história da Festa do Senhor dos Passos, que acontece anualmente em São Cristóvão, cidade próxima a Aracaju. Cerca de 150 mil pessoas vão até lá para acompanhar o encontro das imagens de Jesus com a de Nossa Senhora. Considerada herança patrimonial do Estado e com mais de 200 anos, essa tradição mantém-se viva no século 21.
Para o júri oficial, o melhor vídeo ibero-americano do 8º Curta-SE foi a animação "Rua das Tulipas", de Alê Camargo. A obra --cuja historia gira em torno de um inventor que "conserta" o problema dos outros, mas não os seus próprios-- também foi premiada na categoria "melhor vídeo de animação".
"Unconscious", de Ricardo Nunes, recebeu o prêmio de melhor vídeo, segundo votação popular. "É uma verdadeira satisfação este prêmio. Viajei 12 horas para mostrar meu trabalho ao meu povo." Nunes é sergipano, mas mora atualmente em Londres. Filmado em inglês, o vídeo narra os encontros de um casal que se conhece na Inglaterra.
"Vida de balcão", de Luciano Coelho, recebeu o prêmio de melhor vídeo documentário. Lançando mão de diversos donos de armazéns, o filme mostra a resistência destes estabelecimentos à urbanização e às transformações que as grandes cidades passam.
O melhor vídeo de ficção foi "Um pra um", do paulista Érico Rassi. O filme foi rodado diretamente, sem cortes, repetições ou mudanças de planos.
Melhor vídeo de bolso foi para "Um tango para derrubar o poder", do sergipano Wille Marcel Lima Malheiro. O documentário apresenta, por meio de filmagens de baixa resolução, os abusos e os descasos praticados por quem tem poder.
Uma menção honrosa foi dada a "Chimbumbe", ficção do mexicano Antonio Coello que conta a história de uma mulher que, após se apaixonar por um peixe, é levada para o fundo das águas.
Longa
Na categoria longa-metragem, o grande vencedor foi "O Banheiro do Papa", de César Charlone e Enrique Fernandéz. O filme recebeu três prêmios na categoria "melhor longa", "melhor direção de longa" (para César Charlone e Enrique Fernandez) e "melhor ator de longa" (para César Trancoso).
"O César [Charlone] ficará bem feliz com a premiação. E com o cheque", brincou Isabelle Cabral, curadora do filme, referindo-se ao prêmio de R$ 10 mil recebido pelo diretor.
"O Banheiro do Papa" conta a história de Beto, um contrabandista que pretende lucrar com a visita do papa João Paulo 2º à pequena Melo -- cidade uruguaia próxima à fronteira com o Brasil. Para tanto, constrói um banheiro em frente a sua casa.
O prêmio para "melhor atriz de longa" foi para Dedina Bernardelli, de "Adágio Sostenuto" (foto). "Quero dedicar este prêmio ao Pompeu Aguiar [diretor do longa]. Sem ele, este prêmio não estaria aqui", disse, emocionada, a atriz.
Com poucos personagem e aproveitando ao máximo a trilha sonora (composta por clássicos da música erudita), o filme tem como tema a morte e é dividido em três atos, cada um representando uma etapa da dor: perda, luto e, finalmente, superação.
Dos 403 trabalhos inscritos no festival neste ano, foram escolhidas 70 produções --25 em 35mm; 20 vídeos; dez vídeos de bolso (produzidos com aparelhos celulares); dez vídeos sergipanos e cinco longas-metragens.
Homenagem
A equipe do programa "Zoom", da TV Cultura, foi homenageada por seu trabalho de divulgação do cinema nacional. Segundo a diretora-executiva do Curta-SE, Rosângela Rocha, o programa merece o reconhecimento por ser um dos poucos canais da TV brasileira que apresenta curtas ao público.
Flávia Scherner, nova apresentadora do "Zoom", afirmou que o festival é muito bem quisto pela equipe do programa e que é uma honra receber o prêmio. "Agradeço à equipe do festival pela homenagem", concluiu.
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