Ficou um pouco difícil de entender: o filme venezuelano Postales de Leningrado (foto), que não foi premiado nem como melhor roteiro, direção, nem melhor fotografia, muito menos melhor ator, nem melhor atriz, ganhou simplesmente o prêmio de Melhor Filme no 18º Cine Ceará. Como um concorrente que não é, teoricamente, melhor em nada, pode ser o grande campeão da competição, recebendo o prêmio máximo?
De qualquer maneira, em cerimônia morna e repleta de puxa-saquismos políticos (chamar deputado ao palco para entregar prêmios é o fim da picada!), foram conhecidos na noite desta quinta-feira (17) os filmes vencedores da 18ª edição 2008 do Cine Ceará.
O evento, muito bem organizado durante toda a sua duração (?!), iniciou sua última noite em grande estilo, com o compositor Sérgio Ricardo, verdadeiro ícone da nossa música, executando ao teclado trechos de algumas das trilhas sonoras que ele compôs para filmes de Glauber Rocha. A performance não aconteceu por acaso: Sérgio na verdade estava preparando o terreno para a maior atração da noite, a exibição de cópia restaurada do clássico brasileiro O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, que Glauber dirigiu em 1968, e que teve sua estréia no Festival de Cannes do ano seguinte, quando ganhou o prêmio de Melhor Direção. Poucas pessoas presentes no belo Cine São Luís já tinham tido a oportunidade de ver um autêntico Glauber na tela grande, em película, e a exibição acabou tendo um inestimável valor histórico.
Porém, terminada a saga de Antonio das Mortes, a cerimônia de entrega dos troféus assumiu um caráter quase colegial, de produção amadora, com os prêmios sendo entregues apressadamente e sem emoção. Como a festa como um todo começou atrasada, a premiação propriamente dita só foi iniciada às 23h30 horas, momento em que o cinema já se encontrava bastante esvaziado, gerando uma aura de melancolia e anti-clímax.
Nada foi pior, contudo, que a politicagem barata que se espalhou pela noite final do evento. Como já é de praxe, a direção do Festival mais uma vez convidou deputados, vereadores, e obscuros sub-diretores de patrocinadores e apoiadores - gente que deve ter visto meia dúzia de filmes brasileiros na vida - para subir ao palco em busca de seus 15 fotogramas de fama. O Cine Ceará não merecia isto. Principalmente esta sua décima oitava edição, uma das melhores dos últimos anos tanto na seleção de longas-metragens, como na organização, como nos eventos paralelos (a Mostra sobre o Cangaço foi de dar água na boca), e também na maciça participação popular que lotou o Cine São Luís todas as noites.
Aprendidas as lições tiradas do constrangimento desta noite, certamente o evento será ainda melhor no próximo ano.
Veja os prêmios concedidos pelo 18º Cine Ceará:
Troféu Mucuripe - Longas-metragens:
1- Melhor Longa-metragem: Cartões postais de Lenigrado (Venezuela)
2- Melhor diretor: Carlos Reygadas, por Luz Silenciosa (México-França-Holanda)
3- Melhor Roteiro: Di Moretti, por Nossa Vida não Cabe num Opala (Brasil) - foto
4- Melhor Fotografia: Alexis Zabé, por Luz Silenciosa (México-França-Holanda)
5- Melhor Montagem: Shirley Thompsin, por Circustâncias Especiais (Chile-Estados Unidos)
6- Melhor Som: Raul Locatelli, por Luz Silenciosa (México-França-Holanda)
7- Melhor Trilha Sonora: Wagner Tiso, por Os Desafinados (Brasil)
8- Melhor Direção de Arte: Lana Patrícia, por O Grão (Brasil)
9- Melhor Ator: Juan Diego, por Vete de Mí (Espanha)
10- Melhor Atriz: Ana Celentano, por As Vidas Possíveis (Argentina)
Troféu Mucuripe - Curtas-metragens:
1- Melhor curta-metragem: Antonio Pode, dirigido por Ivan Morales (SP)
2- Melhor diretor: Juliana Rojas e Marco Dutra, por Um Ramo (SP)
3- Melhor Fotografia: Aloysio Raulino, por Corpo Presente (SP)
4- Melhor Montagem: Anita Rocha da Silveira, por Vampiro do Meio-dia (RJ)
5- Melhor Roteiro: Anita Rocha da Silveira, por Vampiro do meio-dia (RJ)
6- Melhor Som: Leonardo Costa Gomes, por Antonio Pode (SP)
7- Melhor Direção de Arte: Ana Teixeira e Ana Valeria González, por Antonio Pode (SP)
8- Melhor Ator: Irandhir Santos, por Décimo Segundo (PE)
9- Melhor Atriz: Helena Albergaria, por Um Ramo (SP)
10- Melhor Produção Cearense: O GRÃO, de Petrus Cariri
Júri Popular
Melhor Curta Metragem da Mostra Olhar do Ceará – eleito pelo Júri Popular – O Último Jangadeiro, de Raquel de Holanda, Camila Andrade e Marcelo Andrade.
Prêmio Aquisição Canal Brasil
Um Ramo, de Juliana Rojas e Marco Dutra.
Troféu Samburá
Melhor Curta: Areia
Melhor Longa: Os desafinados, de Walter Lima Jr
Pitching Globo Filmes
Argumento O Pai de Rita, de Di Moretti
Prêmio Oscarito
Cristiano Câmara, historiador e pesquisador
fonte: cineclik / jc online
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