domingo, 5 de outubro de 2008

'Estômago' leva o Prêmio do Júri de Biarritz


O filme brasileiro Estômago, de Marcos Jorge, foi premiado neste sábado com o Prêmio Especial do Júri do Festival de Biarritz.

O grande vencedor do festival foi Dioses, do peruano Josué Méndez.

Primeiro longa-metragem de Marcos Jorge, artista conhecido por suas instalações de vídeo e diretor de vários curtas e um documentário, Estômago narra a história de Raimundo Nonato (João Miguel), imigrante nordestino que chega a uma grande cidade sem dinheiro e sem profissão, mas que possui uma valiosa qualidade: tem instinto de cozinheiro.

Raimundo Nonato encontra emprego em um bar no qual não recebe salário, apenas alimentação e um lugar para dormir. Mais tarde, seu "dom" para a cozinha o leva a ser contratado por um bom restaurante, no qual se inicia nos segredos da gastronomia italiana e dos bons vinhos.

O diretor, porém, com uma montagem de idas e vindas no tempo, também mostra Raimundo na prisão, conseguindo um espaço graças a seus dons na cozinha no duro mundo carcerário.

Seus conhecimentos culinários avançam assim ao mesmo ritmo de sua compreensão dos mecanismos que comandam a sociedade.

Apresentado como uma "fábula gastronômica", o longa leva o espectador de supresa em surpresa, em um crescendo no qual a trivial história do pobre cozinheiro se transforma em uma feroz parábola do poder: o poder de dar de comer é um verdadeiro poder e no mundo alguns comem e outros são devorados.

Marcos Jorge leva a metáfora às últimas conseqüências, abrindo mão de maneira até insolente de qualquer consideração "politicamente correta".

"A cozinha e a prisão são espaços fechados nos quais os conflitos humanos se exacerbam, são universos representativos do funcionamento da sociedade, da forma como se organizam as relações entre os homens", declarou o diretor em Biarritz.

O júri da 17ª edição do Festival de Biarritz de Cinemas e Culturas da América Latina foi presidido pela atriz francesa Elsa Sylverstein.

O Brasil também foi premiado na categoria documentário, com o filme “Entre a luz e a sombra", de Luciana Burlamaqui (Brasil). O longa mostra como foi formada, dentro do Carandiru, a dupla de rap Dexter e Afro-X, que conhece a fama fora da cadeia.

O grande vencedor da mostra foi o peruano “Dioses”, do diretor Josui Mindez, que venceu o Grande Prêmio El Abrazo do festival. Em “Dioses”, Mindez retrata a classe alta peruana, descrevendo sua vida luxuosa e superficial, além da hipocrisia, por meio de uma família que, durantes as férias de verão, se instala em sua mansão perto do mar.

Todos os prêmios de atuação de Biarritz foram para representantes do Chile. O de melhor atris foi dividido entre Aline Kuppenheim e Manuela Oyarzún, por suas atuações em "La buena vida" de Andris Wood. Roberto Farías recebeu o troféu de melhor ator, por sua participação no mesmo filme.

O Prêmio do Público foi para o longa mexicano "Cosas insignificantes", obra prima de Andrea Martínez. O filme gira em torno de Esmeralda, uma adolescente cuja vida é cheia demais de responsabilidades para sua idade e que guarda como tesouros objetos triviais recolhidos em qualquer lugar.


Confira a lista completa de filmes premiados no Festival de Biarritz:

- Grande Prêmio El Abrazo: Dioses, de Josué Méndez
- Prêmio Especial do Júri: Estômago, de Marcos Jorge
- Prêmio de Interpretação Feminina: Aline Kupenheim e Manuela Oyarzún por La mala vida, de Andrés Wood
- Prêmio de Interpretación Masculina: Roberto Farías por La Buena Vida, de Andrés Wood
- Prêmio do Público: Cosas Insignificantes, de Andrea Martínez
- Curta-Metragem: El deseo, de Marie Benito (México)
- Documentário: La sombra de don Roberto , de Juan Diego Spoerer
- Menção do Júri Documentário: Entre a luz e a sombra , de Luciana Burlamaqui
- Prêmio Jovens Realizadores: De jueves a domingo, de Dominga Sotomayor
- Prêmio do Júri Jovens Europeus Longa-Metragem: La Rabia, de Albertina Carri
- Prêmio do Júri Jovens Europeus Curta-Metragem: Ahendu nde sapukai, de Pablo Lamar

Acesse o site oficial Festival de Biarritz - Cinémas et cultures d'Amérique Latine

fonte: AFP e g1

Sem eleição, Brasília sedia festival internacional de curtas

Brasileiros 'Bem Vigiado' e 'Pipa' (acima, a partir da esquerda), 'Una bicicleta de sal' (Argentina) e 'Yolk' (Austrália)


Enquanto o país inteiro discute eleições, o centro do poder tem outro assunto. Como Brasília não tem prefeito, o fim de semana é de cinema. É um programa não menos politizado com debates importantes na terceira edição da Mostra Internacional de Curtas-Metragens Diferentes Olhares do Mundo”.

Na primeira sessão, nesta sexta-feira (3), não havia mais espaço. A saída foi achar um cantinho no chão para sentar. O ingresso de graça ajudou a lotar o Cine Brasília. O problema é que o único cinema público da cidade está mal cuidado. O programa impresso virou um leque improvisado porque o ar condicionado está quebrado.

Mesmo com calor, o público ficou até o final para assistir a filmes com o mesmo tema – escolhido pelo público – “Os desafios da infância e juventude no Novo Milênio”.

Para o cineasta curador da Mostra, Iberê Carvalho, a produção com essa temática é muito grande, por isso foi fácil escolher os filmes. “É uma mostra muito variada porque não dá para olhar criança e juventude com um único olhar”, afirmou. “Inclusive se encaixa bem com o nome da mostra: diferentes olhares”. Segundo ele, é debate político, mas a curadoria fez questão de não mostrar apenas as mazelas para não fazer uma mostra panfletária.

Iberê já previa que o sucesso seria garantido porque sabe que o público brasiliense gosta do gênero curtas-metragens. A assistente social, Fabiana Borges, concorda. Foi prestigiar o primeiro dia. “Eu estou divertindo e aproveitando para ver um tema que é do meu interesse”. Ela ajudou a aplaudir a produção paulista “Pipa”, de longe a mais comentada da noite.

Até domingo (5), serão exibidos 17 curtas-metragens premiados: produções nacionais e de países como França, Argélia, Israel e Holanda. São documentários, ficções e até animações. Esta é a terceira edição da mostra que sempre aborda os Oito Objetivos do Milênio: metas da Organização das Nações Unidas para acabar com a pobreza até 2015.

Um dos destaques deste ano é de casa. É o curta produzido em Brasília. “Bem vigiado” conta a história de dois garotos que vivem nas ruas da capital e têm a vida observada por um escritor. Com toques de desenho animado, o filme é o mais esperado desta noite.

Antes de começar a sessão, o diretor do badalado longa-metragem “Era uma vez”, Breno Silveira, fará um debate com crianças de escolas públicas sobre cinema.

fonte: g1